(Texto inicial retirado do http://www.comportese.com)
Psicólogo Clínico e Empresarial, especializando em Terapia Comportamental pelo ITCR – Campinas. É coordenador de Ensino a Distância no Instituto de Psicologia Aplicada – InPA, de Brasília, onde também realiza Orientação Psicológica Online. Trabalha com Consultoria em Recursos Humanos e Consultório Particular na Êzito Inteligência Organizacional e Clínica de Psicologia, em Patos de Minas – MG. Tem experiência no atendimento a adultos, crianças/ orientação de pais, casais, famílias e grupos. É membro fundador da Liga Patense de Neurociências e Membro Colaborador da Liga Uberlandense de Análise do Comportamento.
Escreve sobre: Terapia Comportamental com adultos; Habilidades Sociais e Relações Interpessoais; Princípios Básicos da Análise do Comportamento;
E-mail: neto@comportese.com
Linkedin: Esequias Neto.
Lattes: Esequias Caetano de Almeida Neto
Twitter: @_netoec
Conheci a Análise do Comportamento ainda no primeiro período da faculdade, através da disciplina Psicologia Experimental, ministrada pela Prof.ª Ms. Simone Santos. Naquela época eu não fazia idéia de que a Psicologia era composta por um número quase incontável de abordagens, cada uma com uma visão de homem totalmente diferente da outra.
O que me atraiu na Análise do Comportamento no começo não foi sua visão de mundo, mas o fato de naquela época ser a única disciplina em que se falava de Comportamento Humano; a qualidade das aulas da Simone e o fato de eu ter sido aprovado em um processo seletivo para monitoria de AEC, criando uma contingência em que estudar Análise do Comportamento era necessário e aprender a respeito era bastante reforçado socialmente.
No final do Segundo Período eu participei de alguns cursos com o Prof. Dr. Alexandre Montagnero, do Grupo Atitude, de Uberlândia. Se eu já gostava de Análise do Comportamento, aquelas aulas sobre Habilidades Sociais, Terapia Comportamental da Depressão, relatos de pesquisas de eficácia sobre a AC, entre outras coisas do gênero, foram o bastante para que eu me apaixonasse de vez pela abordagem. Me tornei amigo do Prof. Alexandre e com frequência conversávamos a respeito. Embora ele seja Cognitivista Comportamental, sempre estimulou a leitura de Skinner e outros autores da Análise do Comportamento.
Concluída a disciplina de Psicologia Experimental continuei como monitor, auxiliando a Profª Simone com as aulas nas turmas seguintes. Em algum tempo ela se mudou e a Profª. Ms. Cíntia Alves assumiu a disciplina, que passou a se chamar Análise Experimental do Comportamento. Como esta era a única disciplina da graduação cuja orientação era Analítico Comportamental, permaneci como monitor até o sétimo período, quando precisei me dedicar mais ao TCC e não pude continuar. Adorava assistir as aulas da Cíntia, que acabou se tornando também uma grande amiga que muito admiro. Me orientou também em duas Iniciações Científicas e no meu TCC.
2- Você é consideravelmente novo no meio profissional da análise do comportamento. Como fez pra em tão pouco tempo ser uma referência?
Fico muito lisonjeado por me considerar uma referência. Se conquistei algum destaque na área, acredito que seja fruto principalmente de fazer algo que é extremamente reforçador para mim: falar de Análise do Comportamento. Em função disso me empenhei bastante em estudar a abordagem; divulga-la; fazer contato com outras pessoas que estudavam Análise do Comportamento e compor uma equipe como a do Comporte-se, extremamente competente e comprometida com os mesmos ideais.
3- Qual a idéia básica do Comporte-se e onde vocês (o grupo do Comporte-se) querem chegar?
O Comporte-se nasceu bem simples! Era apenas um meio de interagir com profissionais e estudantes de Análise do Comportamento e estimular meus estudos. Era bastante informal e as contingências é que foram fazendo com que ele tomasse corpo de um blog de divulgação. Esse investimento começou verdadeiramente em Fevereiro de 2010, quando passei a atualizá-lo com mais frequência e o número de visitas ao site começou a aumentar. Naquela época, tinha em média 2.800 visitas por mês – coisa que hoje conseguimos em um dia! Em 07 de fevereiro daquele ano publiquei uma entrevista exclusiva com o Prof. Dr. Roberto Banaco, que foi um verdadeiro sucesso e me motivou a investir ainda mais no blog. Abri um processo seletivo para a entrada de novos colunistas, e no dia 25 do mesmo mês passaram a compor a equipe a Aline Couto, nossa atual Diretora de Marketing; o Marcelo Souza, colunista; Rodrigo Oliveira, também colunista e Daniel Gontijo, que em função de seu mestrado e novos investimentos, deixou o grupo em 14 de dezembro de 2011.
Um pouco antes da saída do Daniel, convidei para a equipe a Natalie Brito, nossa atual diretora editorial. Ela passou a se responsabilizar junto comigo pela revisão dos textos enviados para publicação, além de cobrar certa periodicidade dos colunistas. Algum tempo depois passou a compor o grupo a Prof. Dra. Maria Ester Rodrigues, nossa atual vice-presidente. Chegou cheia de idéias novas, estimulando a entrada de novos colunistas e a formação de um corpo de revisores especializados, que se hoje se responsabiliza por avaliar nossos textos e garantir sua qualidade. A Renata Pinheiro é quem cuida da organização de tudo isso, atendendo dúvidas de colunistas e outros parceiros, garantindo a periodicidade das atualizações, “descascando os abacaxis” que surgem na equipe, entre outras coisas. Eu tenho me dedicado exclusivamente a novos projetos, como parcerias com instituições de ensino, editoras, entre outros, que nos conduzirão rumo a nossos objetivos descritos logo abaixo.
O grupo completo é atualmente composto por 24 colunistas, 14 revisores e 3 assistentes de marketing, cuja atuação se volta especificamente a apoiar eventos estudantis de Análise do Comportamento e operacionalizar a divulgação de nossos parceiros. Uma novidade é que em breve deixaremos de ser um blog e assumiremos a identidade de um portal, muito mais interativo e com muito mais recursos para nossos leitores.
Respondendo a pergunta inicial, o objetivo do grupo é tornar o Comporte-se o principal site de Psicologia com referencial Analítico Comportamental do país, reconhecido pela qualidade do material divulgado, dos serviços prestados e interação com leitores e parceiros. Todos nós trabalhamos duro nisso! Para tanto, muitas mudanças ainda vem por ai. Aguardem.
4- Você considera que os ACs de hoje usam muita linguagem técnica e que isso distancia os mais leigos? Se sim o que você sugere para mudança desse perfil?
O que observo é que acadêmicos ou profissionais sem muita experiência com a aplicação realmente tem este perfil e enfrentam dificuldades para dialogar com leigos ou profissionais de outras áreas. Por outro lado, aqueles que já se expuseram a esta contingência não passam por isto, ou pelo menos passam em menor grau. É o que tenho observado ao acompanhar a atuação de alguns Analistas do Comportamento em atividades junto à comunidade de maneira geral.
Mesmo dentro da academia o emprego exagerado de um linguajar técnico pode trazer problemas. Por exemplo, imagine uma situação em que um professor Analista do Comportamento precise discutir a indisciplina de um aluno com outro professor, que por sua vez, é Psicanalista, dizendo: “A análise funcional me demonstrou que a principal variável controladora do comportamento inadequado de Joãozinho é a privação de reforçadores positivos em sua aula somada à estimulação aversiva representada pelo excesso de regras”. Naturalmente não haverá diálogo.
O linguajar técnico é adequado e desejável especialmente em contextos em que analistas do comportamento interagem entre si, como em congressos, publicações da área, aulas sobre a abordagem ou mesmo ambientes virtuais destinados a este fim. Não há porque emprega-lo ao conversar com um cliente, um administrador, um professor, um psicólogo de outra abordagem ou qualquer outra pessoa cujo repertório verbal seja diferente e não se tenha como objetivo ensiná-la o repertório analítico comportamental.
Costumo ensinar meus clientes da clínica e de empresas a empregarem expressões características de nosso vocabulário, mas é uma construção mais ampla em que primeiro compreendem o processo e depois aprendem a nomeá-lo. Como assim? Primeiro compreendem que uma consequência aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta, para só então, nomearem o processo como “reforçamento positivo” e a consequência como “reforçador positivo”.
Indo além, acho complicado dizer que a pouca aceitação da Análise do Comportamento pelas pessoas de outras áreas se deva exclusivamente à nossa linguagem. Existem outras variáveis relevantes, dentre as quais destaco:
a. A maioria dos Analistas do Comportamento publica apenas para os próprios Analistas do Comportamento, em periódicos e congressos específicos da área. Nossos dados são apresentados quase que apenas para nós mesmos. Sugiro aos novos Analistas do Comportamento que participem mais de congressos de pedagogia, administração, medicina, antropologia e outras áreas, levando trabalhos de qualidade e dialogando com estes profissionais. Na medida do possível, busquem também publicar em revistas destas outras áreas.
b. A visão de homem da Análise do Comportamento diverge daquilo que a maioria das pessoas acredita ao ir contra a idéia de um eu iniciador, dos sentimentos como causas do comportamento, entre outras coisas. E isto não é culpa destas pessoas, ou seja, não adianta brigar com elas porque pensam diferente de nós. Em vez disso, que tal usarmos o que sabemos sobre instalação de repertório?
c. Temos um passado que ainda habita o imaginário popular, especialmente daqueles psicólogos cuja formação ocorreu antes da década de 80. As primeiras abordagens com referencial Analítico-Comportamental, a saber, a Modificação do Comportamento e a Terapia Comportamental de Eysenck, foram marcadas pelo tecnicismo. Os profissionais cuja atuação era orientada por elas tinham sua prática baseada quase que exclusivamente na aplicação de técnicas. Nem mesmo a Análise Funcional, nossa principal ferramenta hoje, era utilizada por eles. Os Modificadores do Comportamento, muitas vezes, sequer tinham contato com seus clientes. Eles apenas programavam contingências e orientavam outros profissionais (enfermeiros, cuidadores, etc.) sobre como fazerem as modificações. Isso sem falar nos procedimentos aversivos, amplamente empregados nos primórdios da AC. Entenda que não estou desqualificando este passado, afinal foi com ele que aprendemos. Eu apenas busco hipóteses sobre o porque de muitos considerarem a AC tecnicista ou aversiva. Estas pessoas não acompanharam o desenvolvimento da abordagem. E, mais uma vez, digo que a solução não é ouvir suas críticas com paus e pedras nas mãos, mas esclarecer os mau entendidos. Para tanto, é essencial que também conheçamos a história da Análise do Comportamento.
5 - Quais áreas em sua opinião têm muita pesquisa e onde está faltando?
Essa é uma das perguntas mais difíceis de responder. Não sei detalhes sobre a quantas andam as pesquisas nas diversas áreas da Análise do Comportamento e nem teria como saber. Ainda que fosse pesquisador, poderia falar com segurança apenas de minha área. Responderei, então, a partir daquilo que sinto falta e do que vejo colegas de profissão comentando.
A Análise do Comportamento tem se desenvolvido muito no Brasil, em praticamente todas as áreas que consigo pensar agora. No entanto, vejo um desenvolvimento mais representativo em áreas como Educação, Educação Especial, Equivalência de Estímulos, Cultura e Comportamento Verbal. Por outro lado, sinto falta de pesquisas em áreas como Psicopatologia, Intervenções em Grupo e nas áreas de interseção entre a Análise do Comportamento e outras ciências, como a Administração, Neurociências, Antropologia, entre outras.
Outra área em que falta pesquisa e faço questão de destacar é a área de Intervenção Comunitária. Não existe quase nada com referencial Analítico Comportamental que oriente o trabalho de Psicólogos que trabalham em instituições como CRAS, CREAS e outras do gênero. É uma lacuna importante, que deveria ser imediatamente preenchida.
6 - Você vê grandes mudanças daqui um 100 anos na nossa sociedade? Algo parecido com Walden II ou Los Horcones?
Começo com uma citação do Prof. Dr. Roosevelt Starling, profissional que muito admiro: “Para nosso bem ou para nosso mal, o futuro não é acessível ao nosso conhecimento. O profeta não é quem vê o futuro, mas vê o presente, e vê muito bem”.
A frase se encontra no artigo Ciência do Comportamento: perspectivas futuras em numa sociedade mentalista, publicado no periódico “Ciência: Comportamento e Cognição” no ano de 2007, volume 1, nº1, páginas de 57 a 70. No texto, o autor explica que toda e qualquer previsão que alguém pode fazer acerca do futuro diz respeito a uma interpretação baseada naquilo o que ele percebe do presente. Por exemplo, o profeta prevê a chuva observando as nuvens se acumulando, o vento mudando de direção e intensidade, o cheiro do ar, entre outras coisas, para só então dizer: vai chover. Assim, tudo o que eu disser aqui a respeito do futuro, está circunscrito ao que conheço sobre como a sociedade está atualmente e que tipo de mudanças vem ocorrendo.
Hoje existem várias comunidades ao redor do mundo com um funcionamento mais ou menos parecido ao de Los Horcones, mas ainda assim, com alguns aspectos que as distanciam disto. Algumas comunidades do Xingu e da Caatinga brasileira possuem princípios voltados ao ensino de habilidades necessárias e específicas para a sobrevivência naquele contexto; utilização de recursos produzidos ali mesmo e cuidado para que eles não se esgotem. Mas, ao contrário do que é proposto em Walden II, a maioria delas ainda possui uma organização em forma de hierarquia, a divisão das atividades não é planejada, entre outras coisas. Existem várias outras comunidades assim – como no norte da Tailândia e na África, por exemplo – mas em todas, vemos práticas que ainda são isoladas e bastante destoantes daquelas praticadas no “mundo globalizado”, o qual possui contingências fortes que mantém comportamentos incompatíveis a práticas sociais autossustentáveis. Que contingências? Sobre isto sugiro a leitura do artigo O que está errado com a vida cotidiana no mundo ocidental?, de B. F. Skinner.
Olhando para estas contingências, acho difícil uma mudança tão ampla dentro de 100 anos. Olhar para a sociedade como um todo – a nível mundial ou mesmo nacional – e imaginar que ela irá assumir um caráter autossustentável como é proposto Walden II me parece utópico. Entretanto, mudanças vem ocorrendo. As pessoas estão aprendendo a valorizar o que é local, estão voltando a cuidar de si próprias, revendo valores que estimulam a cooperação, entre outras coisas. Então acredito que a tendência é sim melhorar, mas não de modo tão amplo em tão pouco tempo.
7- Poderia indicar um livro?
Temos muita coisa de qualidade em Análise do Comportamento, então é difícil indicar apenas um livro. Assim, peço licença para falar sobre alguns de meus preferidos, sem necessariamente seguir uma hierarquia. Começo falando daqueles que costumo indicar para quem está começando:
- Compreender o Behaviorismo, de Willian M. Baum;
- Princípios Básicos de Análise do Comportamento – Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros.
Para quem já tem alguma leitura dos princípios básicos, costumo indicar Skinner. Especialmente o livro “Questões Recentes na Análise Comportamental”, que aborda temas relevantes à Psicologia de modo geral, tais como a idéia de um Eu iniciador; a Cognição; os Sentimentos; a Genética; entre outros. Não costumo indicar o Ciência e Comportamento Humano ou Sobre o Behaviorismo para iniciantes porque acho a leitura de ambos um pouco chata, e a idéia, a princípio, é cativar. Mas acho essencial a leitura de ambos para quem já tem algum repertório de leitura de AC instalado.
Para quem se interessa por clínica, gosto de indicar:
- Clínica Analítico-Comportamental: aspectos teóricos e Práticos – Organizado por Nicodemos Batista Borges e Fernando Albregard Cassas.
- Análise Comportamental Clínica – Aspectos Teóricos e Estudos de Caso – Organizador por Ana Karina C. R. de-Farias.
8- Qual a palavra de incentivo você deixaria para os futuros Analistas do Comportamento?
O que posso sugerir é que estudem incansavelmente os princípios básicos. Conheçam os conceitos fundamentais da abordagem, e a partir disso, procurem ler principalmente sobre aquilo que gostam. Gosta de Filosofia? Procure ler Abib, Ditrich. Gosta de Habilidades Sociais, pesquise pelos trabalhos da Zilda e do Almir Del Prette. Gosta de Psicopatologia? Sugiro Ilma Goulart. Clínica? Sônia Meyer e Roberto Banaco.
Criem uma rotina organizada de estudos. Divida a matéria em pequenas partes e planeje seus estudos; dê pequenos intervalos entre uma parte e outra; faça alguma coisa que gosta nestes intervalos e ao concluir a última etapa do dia; defina um local fixo e um horário fixo para estudar, preferencialmente, antes de se cansar com outras coisas.
Agradeço meu amigo e um grande ídolo Esequias Neto, que me concedeu humildemente essa entrevista que considero uma das melhores que já li nos ultimo tempos
Postado por Ítalo Sobrinho
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