Sobre o Behaviorismo - As causas do comportamento


Por que as pessoas se comportam de uma certa maneira? Esta era, no começo, uma questão prática provavelmente: Como poderia alguém antecipar e, a partir daí, preparar-se para aquilo que uma pessoa faria? Mais tarde, o problema tornou-se prático num outro sentido: Como poderia alguém ser induzido a comporta-se de uma certa forma? Eventualmente, tornou-se um problema de compreensão e explicação do comportamento. Tal problema poderia ser sempre reduzido a uma questão acerca das causas.

Tendemos a dizer, muitas vezes de modo precipitado, que se uma coisa se segue a outra, aquela foi provavelmente causada por esta - de acordo com o antigo princípio segundo o qual post hoc, ergo propter hoc (depois disto, logo causado por isto). Dos múltiplos exemplos de explicação do comportamento humano, um deles é aqui especialmente importante. A pessoa com qual estamos mais familiarizados é a nossa própria pessoa; muito das coisas que observamos pouco antes de agir ocorrem em nossos próprios corpos e é fácil  tomá-las como causas de nosso comportamento. Se nos perguntarem por que respondemos com rispidez a um amigo, poderemos dizer: "Porque me senti irritado". É verdade que já nos sentíamos irritados antes de responder, ou então durante a resposta, e por isso achamos que nossa irritação foi a causa de nossa resposta. Se nos perguntarem por que não estamos jantando, pode ser que digamos: "Porque não sinto fome". Frequentemente sentimos fome quando comemos e por isso concluímos que comemos porque sentimos fome. Se nos perguntarem por que vamos nadar, poderemos responder "Porque sinto vontade de nadar". Parece que estamos a dizer "Quando me senti assim antes, comportei-me desta ou daquela forma". Os sentimentos ocorrem no momento exato para funcionarem como causas do comportamento, e têm sido referidos como tal durante séculos. Supomos que as outras pessoas se sentem como nós quando se portam como nós.

Mas onde estão esses sentimentos e estado mentais? De que material são feitos? A resposta tradicional é que estão situados num mundo que não possui dimensões físicas, chamado de mente, e que são mentais. Mas então surge outra pergunta: Como pode um fato mental causar ou ser causado por um fato físico? Se quisermos prever o que uma pessoa fará, como poderemos descobrir as causas mentais de ser comportamento e como poderemos produzir os sentimentos e os estados mentais que a induzirão a se comportar de uma determinada maneira? Suponhamos, por exemplo, que queremos levar uma criança a comer um prato muito nutritivo, mas não muito saboroso. Nós simplesmente nos asseguramos de que não há nenhuma outra comida disponível e, eventualmente, ela acabará por comer. Parece que ao privá-la de comida (um fato físico), fizemos com que ela sentisse fome (um fato mental); e, porque se sentiu faminta, ela comeu o alimento nutritivo (um fato físico). Mas como foi que o ato físico de privação levou ao sentimento de fome e como foi que o sentimento movimentou os músculos envolvidos na ingestão? Há muitas outras questões intrigantes do mesmo tipo. O que devemos fazer a respeito?
Penso que a prática mais comum seja simplesmente ignorá-las. É possível acreditar que o comportamento expresse sentimentos; antecipar o que uma pessoa irá fazer, adivinhando, ou perguntando-lhe como se sente; e mudar o ambiente na esperança de modificar os sentimentos, e, enquanto isso ocorre, não dar nenhuma atenção (ou dar muito pouca) a problemas teóricas. Aqueles que não se sentem muito à vontade com esta estratégia procuram, às vezes, refúgio na Fisiologia. Diz-se então que, eventualmente, se descobrirá uma base física para a mente. Como escreveu há pouco um neurologista, "toda a gente aceita hoje o fato de que o cérebro proporciona a base física do pensamento humano". Freud acreditava que se descobriria ser fisiológico esse aparato mental extremamente complicado e os primeiros psicólogos introspectivos chamavam sua disciplina de Psicologia Fisiológica. A teoria do conhecimento chamada Fisicalismo sustenta que quando fazemos uma introspecção ou temos sentimentos estamos encarando estados ou atividades de nossos cérebros. Mas as maiores dificuldades são de ordem prática: não podemos antecipar o que uma pessoa fará observando-lhe diretamente os sentimentos ou o sistema nervoso. Tampouco podemos mudar seu comportamento modificando-lhe a mente ou o cérebro. Mas, em qualquer caso, parece que, ao ignoramos os problemas filosóficos, não nos colocamos numa situação pior.

Postado por Ítalo Sobrinho
Escrito por B.F. Skinner
Livro: Sobre o Behaviorismo

6 comentários:

  1. Acho que não é correto dizer que não podemos mudar o comportamento modificando o cérebro. As substâncias químicas e as lesões no SNC estão aí para corroborar com isso.

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  2. Talvez o que Skinner queria dizer era que: modificando o cérebro, vc modifica todo o organismo e com isso suas interações com o ambiente. E modificar o cérebro com um medicamento não vai causar comportamento, este já é a consequência de um fato ocorrido.

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  3. Estudar o cérebro ajuda a entender, e muito!, o organismo. Mas o comportamento jamais se resume ao organismo...

    http://olharbeheca.blogspot.com/2011/03/cerebro-comportamento-o-caso-do-pintor.html

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  4. Entendo que a medicação e as lesões vão modificar o organismo que se comporta, mas pense em uma coisa. Pode ser que uma variável que está alterando a probabilidade dos comportamentos seja um fármaco e não uma contingência. Quer dizer, o farmáco altera o organismo que se comporta em determinada contingência. Por exemplo o caso de depressões relacionadas aos hormonios contidos em anticoncepcionais. As contingências da vida dessa pessoa não estão relacionadas a uma depressão, diretamente, apenas indiretamente, através do "comportamento de tomar anticoncepcionais". Ainda assim, não seria correto utilizar técnicas baseadas no desamparo aprendido, por exepmlo, para intervir nessa situação. Basta mudar o anticoncepcional.

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  5. Só queria frisar mais uma coisa. Se na concepção de Skinner uma contingência altera um organismo de forma que esse irá se comportar de forma diferente no futuro, então não há grande diferença entre uma série de contingências que produzem o comportamento classificado como "depressão", e um hormonio que causa depressão. Em ambos os casos temos organismos alterados por variáveis ambientais (sistema exteroceptivo, interoceptivo e proprioceptivo, e neuro-receptores)

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  6. Apenas alguamas observações.

    Tanto o fármaco quanto lesões no cérebro são contingências.Desta forma, devem se integradas a análise comportamental.Por que no caso de fármacos pode ser mais interessante retirar do que acrescentar ou mudar outras contingências, se os fármacos estiverem fazendo mal num momento.Pela mesma razão que se existir uma contingência mantendo ou produzindo um comportamento indesjável, é mais válido retirar essa contingência do que alterar ou acrescentar outra que deverá acompanhar o organismo enquanto existir a contingência causadora do comportamento indesejável.

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