Compreender o Behaviorismo - Walden Two - Terceira e Última Parte - 3/3




Uma Quarta e mais bem direcionada objeção é que uma sociedade como essa não teria graça. O proprio Skinner disse: "'Eu não gostaria dela', ou traduzindo, 'Essa cultura seria aversiva e não me reforçaria da maneira que estou acostumado'" (p. 163). A vida saudável, agradável e ninguem está estressado - pode ser bastante aborrecida. Em um mundo sem sofrimento, onde estaria um Dostoievskyou um Mozart? Skinner reconheceu que essa objeção tinha seus méritos e ele proprio tinha dúvidas se desejaria viver em um lugar como Walden Two. Ao responder, contudo, ele considerou que essa sociedade seria boa, não para nos que vivemos no munndo de hoje, mas para as pessoas que nela vivessem. Em Walden Two, Frazier faz essa crítica a Castle e Burris. O próprio Frazier é descrito como um desajustado e, Walden Two. Ele ama a comunidade, mas, como produto de sua cultura programa, ele se acha pouco à vontade na nova cultura que ajudou a criar.

Essa crítica, "Eu não gostaria dela", tem meno a ver com a idéia de uma sociedade em experimentação que com a idéia de um mecanismo estatal que garanta o bem-estar em todos os seus níveis (estado de bem-estar social). Se uma sociedade em experimentação estabelece como critério para a escolha de boas práticas que elas produzam conforto, saúde ordem e segurança , então ele se encaminha para um Estado de bem-estar social em que o comportamento de cada um seria reforçado positivamente tanto quanto possível, afastando-se das relações coercivas e da maior parte dos controles aversivos existentes. Para muitas pessoas, isso exigiria uma mudança nos reforçadores e nas relações de reforços que controlam suas atividades. Atividades produtivas e criativas poderiam ser explecitamente reforçadas. Presumivelmente haveria pouca ou nenhuma necessidade de alguém "provar-se a si próprio", de competir, enganar, roubar ou mentir.

Quer ou não esse mundo soe entendiante para alguém que vive em nosso mundo, se caminhássemos na direção de mudanças, essas deveriam ocorrer gradualmente. Mesmo a comunidade imaginária Walden Two evoluiu ao longo de um certo tempo. É provável que a maioria de nós daria boas-vindas a quaisquer mudanças que pudessem acontecer durante nossas vidas, e cada geração cresceria em uma cultura substancialmente diferente daquela que veio antes. É improvavel que eles achasssem aborrecida.

A quinta e maior objeção ao planejamento cultural é que isso representa uma ameaça à democracia e leva ao regime ditatorial. Classificados junto com a literatura sobre utopias, estão o que se poderia denominar romances de pesadelo, como a obra de George Orwell, 1984, e o livro de Aldous Huxley, Brave new world. Orwell imaginou um estado totalitário, no qual os princípios comportamentais são usados para amendontrar as pessoas, levando-as à obediencia. Praticamente todos os métodos usados por esse governo são coercitivos, e embora as pessoas sejam miseráveis e estejam constantemente sob o julgo do medo, o estado é poderoso o bastante para se mantar. Pode-se lembrar da Alamanha nazista ou da União Soviética. No livro de Huxley, o populacho é mantido na linha por meio de reforço positivo. Não há qualquer privação, mas todo mundo é viciado, cedo na vida, no uso de uma droga do prazer, algo como a cocaina, que é livre e amplamente distribuida. As pessoas são ensinadas a passar o tempo desfrutando sexo promíscuo, jogos e em atividades amenas que não levam a nada, e são mantidas na ignorância da literatura , filosofia, ciências ou de qualquer coisa que consideramos a herança intelectual de uma pessoa educada.

Duas respostas podem ser apresentadas diante das preocupações levantadas por essas duas obras. Primeiro, quão realista são esses pesadelos? A sociedade de Orwell nos faz lembrar da Alemanha nazista e da União Soviética, nenhuma das quais durou. Relações coercitivas são inerentemente instáveis; as pessoas eventualmente fogem ou se rebelam. O pesadelo de Huxley parece mais inquietante, só porque o uso de reforço positivo que ele descreve parace tornar uma revolta muito pouco provavel. Os métodos de gerenciamento descritos são típicos de relações de exploração. As pessoas se rebelam ou agem no sentido de mudar relações exploradas somente quando percebem a iniquidade da relação - isto é, somente quando é feita uma comparação com um grupo em melhores condições. Na obra de Huxley, embora nenhuma comparação desse tipo seja feita, há uma classe dominante que leva uma vida muito mlehor que a dos explorados. Podemos apenas conjeturar, sobre como essa classe dominante impediria que as demais pessoas fizessem comparações. Em antigas sociedade hirárquicas, com oa Grecia clássica ou a Roma imperial, até mesmo os membros da classe dominante eventualmente falavam contra a iniquidade. A longo prazo, em gerenciamento baseado em exploração também é instavel.

Uma segunda resposta seria que uma administração estável também inclui um contracontole eficaz. A relação entre governoantes e governados não pode ser uma relação entre pares ou iguais. Tal relação poém, pode ser estável, se os meios de contracontrole vão além da simples ameaça de distúrbios. Em uma democracia, a ameaça de uma rebelião raramente surge, porque as pessoas têm formas alternativas de contracontrole - eleições, lobby e manisfestações.

Uma segunda característica essencial da democracia, é que no final das contas, governantes e governados compartilham as mesmas relações de reforços. Quando o mandato do governante expira, ele se torna um cidadão comum novamente. As mesmas leis se aplicam tanto ao ex-governantes como aos demais cidadãos. Relações de reforços compartilhadas constituem uma forma adicional, a longo prazo, de controle sobre o comportamento do governante; ações levadas a cabo durante o mandato de um governante, em ultima análise, vigorarão tanto para os demais cidadãos como para ele, após deixar seu cargo. Tais relações de longo prazo, porém, precisam ser complementadas por relações relativamente imediatas de contracontrole, que têm mais efeito sobre as ações dos governantes porque atuam a prazo muito curto.

Todavia apesar de tudo que é dito em seu favor, a democracia tal como praticada nos Estados Unidos está longe da perfeição. Como método de contracontrole, as eleições são insatisfatórias, porque fornecem respostas apenas depois de um período de anos; a fim de prover consequencias imediatas para o comportamento dos governantes, as eleições deveriam ser frequentes, mas eleições frequentes causariam muitos problemas. A proposta de Goldstein e Pennypacker permitiria eleições menos frequentes, com menos distúrbios, ao menos em nével local, mas outros problemas permanecem. Quando uma eleição ocorre, muitas vezes menos da metade dos eleitores cadastrados vota. Não se pode supor que aqueles que votam analisaram as questões críticas, porque as campanhas eleitoral é extremamente cara, as pessoas ricas podem exercer muito mais influência do que seria justo. Delegar poderes (sobre os reforçadores) também apresenta problemas, porque as pessoas nomeadas podem ser menos suscetíveis a contracontrole que aqules que o designam. A maioria dos americanos tem pelo menos uma história a contar de encontros fustados com burocratas. A pessoa que recebe seu requerimento para expedição de sua carteira de motorista pode, com completa impunidade, ser rude com você, porque você nao tem qualquer idéia do que fazer a respeito, e você precisa da cooperação dessa pessoa para dar andamento a sua pedido. O grau de variação no tratamento que recebemos, de um serviço para outro, é surpreendente. Quer seja um serviço público ou particular, de um banco ou de um supermercado, em uma organização bem administrada todos são corteses e prestativos. O que causa a diferença? O que faz com que uma organização seja bem administrada e outra, não?

Em Walden Two, Skinner supôs quais seriam as respostas e soluções às questões acerca do que é bom em uma democracia e como ela, poderia ser melhorada. Os planejadores têm mandatos de duração fixa, claro, de forma que se vejam obrigados a partilhar as relações de reforços com os demais, a longo prazo. Contudo, não existem eleições. Ao invés, Skinner propõe frequentes consultas ao povo através de pesquisa de opinião e por meio de solicitações de sugestões, consultas essas a serem feitas através dos Gerentes. Ele pode ter antecipado a preocupação que vemos hoje com a "comunicação". Quando examinamos o que as pessoas querem dizer quando falam de comunicação, particularmente em discussões sobre gerenciamento e administração, parece que elas estão falando de contracontrole. Os burocratas e prestadores de serviço são atentos e corteses quando "escutar" e "ser cortês" são comportamentos reforçados. Considerando que o público tem poucos meios para reforçá-los, o reforço deve vir de cima. Porém, isso depende de como aqueles que estão "em cima" agem para tomar ciência do comportamento dos seus supervisionados e de como os instruem sobre como se comportar. (Esse "agir para tomar ciência " - observar - e essa instrução devem , eles próprios, ser reforçados também.) Quando um supervisor assim se "comunica" com seus supervisionados, não só os comportamentos apropriados relativos aos usuários aumentam, mas os usuários ganham mais poder de contracontrolar. As respostas favoráveis e desfavoráveis de usuário fazem mais diferença porque elas são observadas. Skinner sugeriu que um goversno poderia, do mesmo modo e igualmente bem, ser assim administrado. Em seu livro, os Gerentes (servidores) realizam pesquisas de opinião entre seus eleitores (usuários), de modo que os Planejadores possam estar cientes dos efeitos de suas práticas. Em outras palavras, as consultas fornecem estímulos discriminativos que, além de reforçar e punir o comportamento dos Planejadores, também servem para induzir uma ação (manutenção ou mudanças práticas). Consultar a opinião pública nos Estados Unidos cresceu ao ponto em que hoje é quase uma atividade contínua; essa prática poderia ser submetida a um melhor uso.

Os problemas que enfrentamos hoje são terríveis, Há razões para sermos pessimistas sobre nossa capacidade de resolvê-los. Ainda ouvimos falar da necessidade de mudar as mentes das pessoas sem reconhecer que o que precisamos mudar é o comportamento das pessoas e que mudar suas mentes em geral não funciona. Ainda ouvimos falar da nessecidade de mais punições para impedir comportamentos indesejáveis. Enquanto uma linguagem metafísica sobre sentimentos e sobre um eu interno dominarem nossa discussões, enquanto uma linguagem moralista induzir o uso de controle aversivo em vez de reforço positivo, não consiguiremos abordar nossos problemas como problemas de comportamento e não consiguiremos usar ténicas comportamentais para resolvê-los. Precisamos planejar, experimentar e avaliar. Conseguiremos realizar, em tempo, as tão necessárias mudanças nas relações de reforço? Enquanto consequencias de longo prazo não controlarem nossa decisões políticas e consequências de curto prazo continuarem controlando nosso comportamento, o desastre parece inevitável.

Não obstante, parece haver alguma razão para nos sentirmos otimistas. Embora considerações de curto prazo possam dominar em nossa cultura, parace que estamos mudando de forma a sermos cada vez mais controlados por consequências de longo prazo. No passado, cada geração deixou para a próxima geração ainda mais problemas do que encontrou - poluição, armamento, dívidas publicas - por agir baseando-se apenas em considerações de curto prazo. À medida que possamos de uma crise para a próxima, certas práticas evoluem, e elas poderão finalmente nos ajudar a evitar novas crises. Tais práticas inevitavelmente dependem de especialistas que possam avaliar e prever relações de longo prazo prováveis, Elas também depedem de um número suficiente de cidadãos informados e participantes, agindo para prover estímulos discriminativos e consequências para aqueles que governam. A julgar pelos noticiários, especialistas e cidadãos comprometidos com o bem-estar geral parecem, pouco a pouco, ter sucesso na aprovação de leis de proteção ambiental, de diminuição da pobreza e de melhorarias na saúde, em vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos. Essas práticas estão sendo cada vez mais avaliadas e comparadas com alternativas. Queiramos ou não, acreditássemos ou não ser isso possível, parece que estamos caminhando na direção da sociedade em experimentação de Skinner. Esperamos que sim.

Postado por Ítalo Sobrinho
Escrito por William M. Baum
Livro: Compreender o Behaviorismo

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