Todas as ciências originaram-se da Filosofia e posteriormente se separaram dela. Antes que a astronomia existisse, por exemplo, especulava-se a respeito da organização do universo a partir do pressuposto de que Deus havia criado tudo daquele jeito.
As pessoas desenvolviam um raciocínio bem peculiar a partir de suas experiências pessoais. Com relação ao universo, era mais ou menos assim:
1 - Todos os eventos importantes acontecem na terra, então ela deve ser o centro do universo, tudo gira em torno dela (geocentrismo);
2 - O círculo é a forma geométrica mais perfeita, sendo assim, o sol deve girar em torno da terra obedecendo uma órbita circular. A lua, certamente, gira em outra órbita circular mais próxima. As estrelas se organizam em torno do conjunto, formando assim uma esfera perfeita.
A partir do momento em que as pessoas começaram a tentar entender os objetos e fenômenos naturais por meio da observação sistematizada, as coisas começaram a mudar. Nascia então, a ciência!
Galileu, por exemplo, apontou o telescópio para a lua observando que esta era cheia de crateras, ou seja, estava longe de ser a esfera perfeita que os filósofos imaginavam - rompendo então com a filosofia. Ele rompeu também com a idéia de que a terra era o centro do universo, apoiando a idéia de Copérnico. Muitas idéias de Aristóteles sobre Física, por exemplo, foram colocadas em xeque com as observações de Galileu
Algumas diferenças entre o raciocínio filosófico e o científico são:
• O raciocínio desenvolvido em Filosofia parte de suposições para conclusões. A medida que este vai se desenvolvendo, os argumentos vão tomando forma, criando-se então sentenças do tipo “se isto fosse assim, então aquilo seria assim”. O caminho traçado pela ciência é o caminho oposto. O raciocínio científico configura-se a partir de sentenças como “isto foi observado; o que esses fatos estão nos mostrando, e a que outras observações eles podem levar?”;
• A verdade filosófica é absoluta: se estas premissas forem enunciadas explicitamente, estando também correto o raciocínio, as conclusões seguem-se necessariamente. A verdade científica, pelo contrário, é sempre relativa e provisória: é suscetível de não ser confirmada por novas observações;
• As suposições filosóficas nos remetem a abstrações além do universo natural, como Deus, harmonia, forma ideal, assim por diante. As suposições científicas que são usadas na construção de teorias referem-se somente ao universo natural e sua possível forma de organização.
Assim como especulavam sobre física, os gregos também especulavam sobre a química. Aristóteles, por exemplo, conjecturava que a matéria variava em suas propriedades por ser dotada de certas qualidades, essências ou princípios. O filósofo sugeriu que a matéria continha quatro destas qualidades, sendo elas o quente, o frio, o úmido e o seco (a lista foi aumentando com o passar do tempo). Quando a substância era líquida é porque ela possuia em maior quantidade a qualidade úmido; quando era algo sólido, é porque possuía em maior quantidade a qualidade seco; assim por diante. Dizia-se que as substâncias esquentavam porque possuíam internamente a essência calórica. Queimavam porque possuíam flogisto.
Eles acreditavam que estas substâncias eram reais e ficavam escondidas dentro dos materiais (embora ninguém nunca as tivesse encontrado). A partir do momento em que os estudiosos deixaram de lado estas especulações e começaram a desenvolver estudos através da observação sistemática da mudança na matéria, nasceu o que hoje se chama de Química, que dentre outros benefícios nos trouxe a tão útil farmacologia.
O rompimento da biologia com a filosofia e a teologia se deu do mesmo modo. Antigamente o raciocínio que imperava era que, se existia alguma diferença entre os seres vivos e as coisas não vivas, era porque Deus havia dado às coisas vivas alguma coisa que as não vivas não tinham ganhado. Alguns chamavam essa “coisa” de alma; outros, de vis viva. Como o corpo era movido por entidades sagradas, ele era intocável. Ninguém poderia realizar nenhum tipo de procedimento invasivo nele pois, se o fizesse, estaria desrespeitando a Deus. Só a partir do século XVII que os cientistas começaram a dissecar animais e estudar o funcionamento do corpo humano.
Willian Harvey observou como o coração bombeava o sangue através do corpo, descobrindo assim que o funcionamento do ser humano mais parecia com o de uma máquina do que com a ação de uma suposta força mágica. A partir daí, os estudiosos começaram a abandonar a idéia de que o organismo era movido por forças mágicas como a alma ou a vis viva, passando então a estudá-lo de forma sistemática, o que permitiu diversos avanços à medicina que com isto ganhou statuscientífico.
O mesmo aconteceu com Darwin ao publicar sua teoria da evolução das especies através da seleção natural. Muitos se ofenderam porque sua teoria ia contra o relato bíblico de que Deus havia criado todas as plantas e animais do modo que eram e em poucos dias. O próprio Darwin absteve-se de publicar seu livro por muito tempo, só o fazendo no momento em que percebeu que outros estudiosos também estavam chegando à mesma conclusão. A partir do momento em que se descobriu a evolução das espécies, muita coisa mudou no mundo. O ser humano deixou de ser considerado tão especial, passou a ser visto como apenas mais um animal dentre tantos que apenas evoluiu à sua maneira.
Em todos os exemplos citados, houve muita resistência com as novas descobertas científicas. Galileu, por exemplo, foi condenado pela Igreja Católica, sendo obrigado a voltar atrás em Roma e dizer que o heliocentrismo era apenas uma hipótese. Algum tempo depois, ele voltou a defendê-lo.
E, como não poderia deixar de ser, com a psicologia não é diferente. Sua ruptura com a filosofia é relativamente recente e, até a década de 1940, a maioria das universidades não tinha um departamento de Psicologia. Os professores de Psicologia em geral ficavam em departamentos de Filosofia.
Na verdade, ainda hoje, a Psicologia é altamente influenciada pela Filosofia e até pela Teologia. A Psicologia evoluiu muito pouco na prática desde os tempos de Platão e Aristóteles. Ainda hoje os psicólogos prendem-se excessivamente a questões semelhantes às que as outras ciências citadas se prendiam antes de adquirirem condições de evoluir a ponto de trazer maiores benefícios para a sociedade. Não digo que não traziam antes, mas deixo a questão: como estaria o mundo hoje se as ciências citadas não tivessem desenvolvido métodos sistematizados para abordar seus objetos de estudo, continuando assim a tratar deles com base em simples inferências não demonstráveis?
Em uma próxima postagem, trarei a tona a discussão que Skinner faz no primeiro capítulo de seu livro Beyond Freedom and Dignity* a respeito da necessidade de uma ciência psicológica que trabalhe com os problemas práticos da realidade e busque soluções para estes, deixando de perder tempo com questões impossíveis de serem estudadas, conjecturando teorias e mais teorias sem fundo natural.
*Livro “Para além da Liberdade e Dignidade”, traduzido como “O Mito da Liberdade” para o português.
(Quero agradecer ao Neto, por deixar usar os textos dele, e ele pediu pra colocar o link do Site onde está esse texto entre outros, mesmo se ele não tivesse pedido eu colocaria com todo gosto, e faço questão que visitem o site, muito organizado com textos super interessantes como esse ai, o site é
http://www.psicologiaeciencia.com.br/
A referencia do texto é
http://www.psicologiaeciencia.com.br/2009/05/a-historia-do-conhecimento-um-breve-apanhado/
Postado por Ítalo Sobrinho
Escrito por Esequias Neto
Contato: netopsico@yahoo.com.br
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