Psicólogos pedem retratação e cogitam processar Atlético-PR



Seis dias após ser apresentado no Atlético-PR, Renato Gaúcho explicou o afastamento do psicólogo Gilberto Gaertner, que deixou o grupo profissional para trabalhar com a base, dizendo-se apto para exercer a função. As declarações não foram bem aceitas pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP 08) e pela Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte (Sobrape), que enviaram um ofício ao clube paranaense, exigindo retratação pública do clube e do treinador.

"O melhor psicólogo para o meu grupo sou eu, porque já passei por diversas situações. Estive do outro lado (como jogador) por 20 anos e sei o que eles precisam ouvir. Com todo o respeito à profissão, o psicólogo para o jogador no grupo do Atlético-PR nesse momento sou eu", disse o treinador no dia 13 de julho, ao ser questionado sobre o momento ruim da equipe, que briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

O recente episódio no Atlético-PR é comum no futebol. Em 2005, no Palmeiras, o psicólogo João Ricardo Cozac foi demitido quando o clube trocou o técnico Paulo Bonamigo por Emerson Leão. Contrário à psicologia do esporte, o treinador disse: "se o jogador precisa de psicólogo, que vá procurar em uma clínica e não no Palmeiras."

Hoje presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte e vice-presidente da Soprabe, Cozac entende que a falta de compreensão sobre o trabalho do psicólogo do esporte contribui para que episódios como o de Renato Gaúcho e Gilberto Gaertner sejam recorrentes no futebol.

"Há uma enorme dificuldade de compreensão do que é realmente o trabalho deste profissional. O episódio do Renato Gaúcho foi a gota d'água para nós. Há uma banalização no entendimento público e esportivo do que vem ser a psicologia do esporte. É preciso que haja uma moralização da profissão, um resgate da ética, da confiança e da seriedade dessa área e dos benefícios fundamentais que ela tem no rendimento e no bem-estar dos atletas", afirmou João Ricardo Cozac.

De acordo com Márcia Regina Walter, presidente da Sobrape, vários psicólogos se mostraram insatisfeitos com as palavras de Renato, o que motivou a expedição do ofício. "Qualquer um, de qualquer área, ficaria indignado. Existe toda uma formação até a profissionalização. São cinco anos de curso, mais uma especialização e eventualmente um mestrado", disse.

"Ele (Renato) até reconheceu a importância do psicólogo no esporte, mas o problema foi ter assumido essa responsabilidade. Acredito que não tenha agido de má fé, disse isso porque acha que pode passar por psicólogo do grupo, mas não é assim. Trata-se de um trabalho respaldado pela ciência", afirmou Márcia.

A partir da data de elaboração do ofício (15 de julho), clube e treinador têm um prazo de 60 dias para se retratar. Caso isso não ocorra, os órgãos pretendem abrir um processo por exercício ilegal da profissão.

Procurado para comentar o assunto, Renato Gaúcho avisou por meio de sua assessoria de imprensa que não pretende se manifestar. O possível processo, caso não haja retratação, seria contra o clube e não contra o treinador. O presidente do Atlético-PR, Marcos Malucelli, não concorda. "Estou ciente do ofício, mas o clube não tem que fazer retratação nenhuma. Isso é um problema do Renato", afirmou.

O Conselho Regional de Psicologia do Paraná e a Sobrape ainda esperam o pronunciamento do clube e de Renato Gaúcho e pretendem enviar o ofício novamente antes que o prazo de 60 dias se encerre. "Não queremos causar conflito. A gente sabe que existem dirigentes no clube que entendem a importância do trabalho do psicólogo do esporte, mas precisamos promover essa causa", disse Márcia Regina Walter.

Psicólogo afastado se manifesta

Afastado do grupo profissional por Renato Gaúcho, Gilberto Gaertner evita criticar a atitude do técnico. O psicólogo continua trabalhando no Atlético-PR, mas agora apenas nas categorias de base e, até por isso, adota um discurso cauteloso quanto ao episódio. Mesmo assim, não deixa de considerar correta a posição do Conselho Regional de Psicologia do Paraná e da Sobrape.

"A elaboração do ofício é algo formal e dentro dos critérios da profissão. Não vou entrar no mérito da questão porque estou diretamente envolvido. É um assunto entre as instituições, mas eu acho que o Conselho e a Sobrape se posicionaram corretamente", disse.

"Há técnicos que trabalham bem com o psicólogo e outros não têm muita afinidade. O clube tem toda uma estrutura formada. Existem aqueles que sabem usufruí-la e tem os outros que não. É uma questão pessoal que eu não vou entrar no mérito porque cada um tem sua forma de trabalhar", afirmou Gaertner.

Em São Paulo, além de Luiz Felipe Scolari, que trabalha no Palmeiras com a psicóloga Regina Brandão, profissional que acompanhou o treinador na Seleção Brasileira e em Portugal, Adilson Batista, comandante do São Paulo, é outro adepto à psicologia do esporte. Foi ele, inclusive, que pediu a contratação de Gaertner, em abril, quando ainda era técnico do Atlético-PR.

"Fui eu quem indicou. É um profissional que conheci em um curso que fiz. Ele deu aula no Conselho Regional de Educação Física (CREF), fez bons trabalhos no Paraná, li os livros dele e então pedi que ele fosse contratado para nos ajudar e ajudou. Mas é essa coisa do futebol de que quando perde, está tudo errado, então muda-se tudo", disse Adilson.

Gaetner, que já trabalhou no Atlético-PR entre 2005 e 2006, destacou a importância da psicologia na fase de amadurecimento do jogador. "Temos um projeto que envolve desde o infantil até a preparação dos juniores para o profissional. Esses meninos precisam desenvolver o psicológico assim como o físico e a parte técnica, pois só assim conseguem lidar bem com as cobranças comuns no futebol", disse o psicólogo que ainda está disponível para avaliações individuais dos atletas profissionais.

"A preparação psicológica tem a mesma importância que a física e a técnica. É extremamente específica e busca a otimização do rendimento. Muita gente não tem informação sobre o que faz a psicologia do esporte e por isso a identificam como trabalho motivacional. O que é bastante errado, pois trata-se de um trabalho científico, técnico e que demanda tempo", afirmou.

A área de atuação de Gaertner não se resume ao futebol. Ele já atendeu atletas de karatê, natação, tênis e vôlei. Neste último, aliás, trabalhou ao lado de Bernardinho, técnico da Seleção masculina, e de José Roberto Guimarães, técnico da feminina. Gaertner relaciona a carreira vitoriosa dos dois ao respaldo que ambos dão à psicologia. "A diferença de cultura entre os esportes é muito grande. Eu trabalhei com vôlei e é outra coisa. Tanto o Bernardinho quando o José Roberto Guimarães são pessoas de alto nível, que entendem a importância da psicologia do esporte e exploram ao máximo os recursos que ela proporciona. Não é à toa que o vôlei brasileiro

Postado por Ítalo Sobrinho

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