O Comportamento Verbal do Esquizofrênico


Não há consenso na literatura no que diz respeito às terminologias usadas para descrever o comportamento verbal do indivíduo com esquizofrenia, sendo suas falas comumente caracterizadas como alucinatórias, bizarras, delirantes, psicóticas, salada de palavras etc. A despeito da terminologia empregada, o comportamento verbal do esquizofrênico é considerado inapropriado simplesmente porque não é característico do contexto, o que dificulta sua compreensão e dá margem a explicações baseadas em processos que ocorrem dentro do indivíduo. De acordo com a abordagem analítico comportamental, no entanto, falas inapropriadas são conceitualizadas como comportamentos operantes e, enquanto tal, são compreendidas a partir da interação entre contingências ambientais de reforçamento e punição, históricas e atuais. Mais precisamente, comportamento verbal, inapropriado ou não, deve ser funcionalmente analisado, ou seja, visto à luz das condições de estímulo antecedentes e consequentes ao comportamento (Skinner, 1957/1978).

O comportamento verbal de pessoas com o diagnóstico de esquizofrenia vem se constituindo um importante tema de investigação da ciência do comportamento (Ayllon & Haughton, 1964; Britto, Rodrigues, Santos & Ribeiro, 2006; DeLeon & cols., 2003; Dixon & cols., 2001; Isaacs, Thomas & Goldiamond, 1964; Lancaster & cols., 2004; Liberman, Teigen, Patterson & Baker, 1973; Mace, Webb, Sharkey, Mattson & Rosen, 1988; Santos, 2007; Silva, 2005). Nesses estudos, a alteração das falas inapropriadas ocorreram de acordo com as diferentes condições experimentais manipuladas pelos pesquisadores, tais como reforçamento contingente e extinção. Assim, vários comportamentos do esquizofrênico foram estudados por meio de procedimentos relativamente simples, cujos resultados demonstraram o controle desse tipo de comportamento por suas consequências. 

O comportamento verbal do esquizofrênico é considerado inapropriado quando inclui frases ou sentenças cujas elocuções descrevem o que não é característico do contexto, por exemplo, “O diabo não me deixa sorrir” (Britto & cols. 2006). A frequência do sorrir poderia diminuir, mas tal diminuição não poderia ser atribuída a fatos que envolvessem o diabo (um estímulo inobservável) (Wilder & cols., 2001). Afirmar-se-ia, por outro lado, que a elocução serviria como um estímulo discriminativo que evocaria comportamentos incompatíveis com o sorrir, sendo esses comportamentos mantidos por reforçamento negativo, ou seja, pela eliminação, adiamento ou minimização de consequências aversivas que seriam supostamente liberadas pelo diabo, caso o sorriso ocorresse. Esse tipo de comportamento verbal também afetaria o comportamento do ouvinte, ao gerar nele reações emocionais (Skinner, 1957/1978).

As verbalizações do esquizofrênico devem ser elucidadas dentro das fronteiras de uma ciência natural do comportamento (Britto, 2004, 2005). Assim sendo, as variáveis controladoras das verbalizações do esquizofrênico devem ser buscadas nas interações que ele estabelece com aspectos do seu ambiente. Delírios e alucinações não são coisas nem objetos, tampouco algo que o esquizofrênico possua; são comportamentos verbais controlados pelas consequências verbais e não verbais que produzem. Descrever funcionalmente um comportamento não é uma tarefa fácil. No caso particular dos delírios e alucinações, essa tarefa se torna particularmente desafiadora porque esses comportamentos não obedecem a uma regra do tipo ‘um estímulo, uma resposta’: não há correspondência ponto a ponto entre estímulo e resposta, sendo também comum que o controle resulte da interação de diversos estímulos (MacCorquodale, 1969; Skinner, 1957/1978). Investigar os eventos que atuam como múltiplos estímulos no controle das complexas vocalizações relacionadas aos delírios e alucinações se faz necessário. Estudos dessa natureza, no entanto, são escassos em nosso contexto.

Postado por Ítalo Sobrinho

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