Plantão Psicológico



Autor: Carlos Eduardo - Acadêmico 10º Período de Psicologia

O plantão Psicológico surgiu no serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de psicologia da USP, por volta de 1969.  Os alunos foram preparados para assumir um plantão de atendimento, onde eles recebiam, ouviam, inscreviam ou encaminhavam o cliente, ao mesmo tempo buscando aliviar a sua angústia ou ansiedade imediata e provendo um acolhimento respeitoso e empático.

Considerando o plantão psicológico como uma modalidade de aconselhamento, este apresenta uma fundamentação teórica própria. Mahfoud citador por Paparelli e Martins (2007) define o plantão como um certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantém a disposição de quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos de tempo previamente determinados e ininterruptos. priorizando o atendimento breve e focal, buscando intervir de forma preventiva e acolher pessoas em situações de emergência que recorram a este serviço.

Desta forma o que define o plantão não é a queixa trazida pelo cliente mas o modo de lidar com a mesma, que de acordo com Yehia (2004) deve ser compreendida como um sintoma de uma demanda cujo esforço de compreensão é feito na medida em que se interesse ao cliente”. De fato, trata-se, em vez de focalizar o sintoma do cliente, de acolher sua experiência, procurando tornar este encontro significativo.

Paparelli e Martins (2007), afirma que os objetivos da atuação do serviço de plantão psicológico bem como os objetivos pedagógicos são de: Acolher a demanda do individuo que sofre, a partir da utilização de métodos e técnicas de tempo limitado, em conformidade com a abordagem teórica, tendo como alvo o individuo com problemas e não problemático. Desenvolver o trabalho pela compreensão da maneira como o problema atual afeta a vida do individuo, buscando elementos que forneçam uma nova perspectiva de entendimento e ampliem as alternativas desse individuo para lidar com suas próprias questões. O terapeuta deve aprimorar sua realidade social; desenvolver a postura de psicólogo e a capacidade de disponibilidade terapêutica, através do acolhimento da demanda; promover a autonomia e o raciocínio clínico, ampliando sua compreensão acerca da diversidade de demanda que esse serviço advém.

É importante ressaltar que a vivencia em plantão psicológico requer, do plantonista, uma tomada de posição – pessoal, ética, política, social, profissional, independente da abordagem de atuação e que este aperfeiçoe sua escuta, esteja preparado e disponível para receber a vivência que o cliente trás, de maneira tal a facilitar que este examine com cuidado as diversas facetas de sua experiência.

Para que se possa identificar no atendimento clínico os processos de mudanças e os movimentos que a pessoa realiza durante a sessão, utiliza-se de alguns conceitos como: “AQ – apresenta questão, AH – apresenta historia da questão, AV – apresenta várias questões, EIQ – elege uma questão, ExQ – explora questão, PI – pede informação, RA – reafirma atitude, NC- não comparece após o agendamento, RQR – relata como a questão resolveu, RQ – retoma questão, RCA – relata como agiu, PR – propõe-se a refletir, AP – apresenta possibilidades, MP – Mudança de perspectiva, ANA – assume nova atitude, DA – decide agir”.

O serviço de plantão psicológico é considerado como uma possibilidade de atendimento emergencial ou um processo pessoal que se caracteriza por uma tomada de foco, buscando atender: adultos, famílias, adolescentes, crianças, casais que procurem pelo serviço onde haja profissionais disponíveis.

O plantão psicológico pode se configurar como uma psicoterapia breve e como tal é definida como uma ‘relação de ajuda’ baseada em conhecimentos e procedimentos específicos e delimitado por uma ‘situação psicoterápica’ na qual o terapeuta trabalhará, o tempo todo, com um suporte para suas intervenções, tanto no seu referencial teórico quanto no desenvolvimento de um bom vinculo terapêutico.

A psicoterapia breve de acordo com Lé Sénechal Machado (2001) implica a utilização, pelo terapeuta, do conceito de foco, isto é, a concentração, durante um determinado e curto período de tempo, na resolução de um conflito principal associado á situação atual, ou ainda, às contingências do contexto de vida atual do paciente.

No plantão psicológico sob enfoque da Análise do Comportamento é utilizada a mesma fundamentação teórica e ferramenta de trabalho utilizada no processo terapêutico: a análise funcional; definido por Meyer (2006) como um instrumento básico de trabalho de qualquer analista do comportamento, inclusive daquele que atua em clinica. É sua tarefa identificar contingências que estão operando e inferir quais as que possivelmente operam no passado, ao ouvir a respeito ou observar diretamente comportamentos. O terapeuta pode também propor, criar ou estabelecer relações de contingências para desenvolver ou instalar comportamentos, alterar padrões, como taxa ou ritmo, ou espaçamento, assim como reduzir, enfraquecer ou eliminar comportamentos do repertorio dos indivíduos. Vale ressaltar que estas tarefas geralmente são feitas em conjunto com o cliente.

O motivo o qual um sujeito procura ajuda para o behaviorismo radical está relacionado a sua concepção de homem, uma vez que este não tem conhecimento de todas as variáveis das quais o seu comportamento é função e isso determina uma limitação de suas possibilidades de autoconhecimento.

Skinner (apud Scheeffer 1986) afirma que a compreensão dos problemas humanos não progredirá se estudados do ponto de vista das teorias “intrapsiquicas”. Nesse sentido o aconselhamento comportamento centraliza-se no comportamento observável. O comportamento humano, na sua maior parte é aprendido, podendo ser modificado através da manipulação e da criação de novas condições de aprendizagem. Desta forma os procedimentos de aconselhamento visam provocar mudanças pertinentes.

Os objetivos do Aconselhamento Comportamental são estabelecidas sob medida para cada cliente, de maneira clara e sem ambigüidade de forma que todos aqueles envolvidos no processo de aconselhamento saibam onde estão situados e possam acompanhar o que está sendo efetuado. É importante que as mudanças de comportamento tentados no aconselhamento sejam desejadas pelo cliente, pois o aconselhamento comportamental se trata de um sistema auto-corretivo.

Os procedimentos de aconselhamento visam provocar mudanças pertinentes no comportamento, modificando o ambiente. Os problemas do cliente devem ser conceituados como problemas de aprendizagem, sendo função do aconselhador ajudá-lo a aprender maneiras mais eficazes de solucionar seus próprios problemas. Os objetivos devem ser expressos em termos de mudanças especificas do comportamento, determinando as medidas de aprendizagem que devem ser postas em práticas para atingi-las.

É importante ressaltar que é eticamente essencial que o aconselhador esclareça ao aconselhando quanto as suas limitações da sua atuação para que ele não alimente expectativas irreais sobre as possibilidades do processo de aconselhamento.

De acordo com Guilhardi; as intervenções do terapeuta têm como objetivo último levar o cliente à auto-observação e ao autoconhecimento, ou seja, ser capaz de descrever as contingências às quais responde e influir nelas. “Todo o comportamento, seja ele humano ou não humano, é inconsciente: ele se torna “consciente” quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessárias à auto-observação” (Skinner, 1991, p. 88).

O aconselhador deve iniciar o processo de aconselhamento ouvindo cuidadosamente as queixas do cliente, ou seja, fazendo um acolhimento e procurando compreender através de uma análise funcional, ou seja, identificar o valor de sobrevivência de determinado comportamento do cliente em interação ao seu ambiente, verificando também o grau de consciência de seu repertorio comportamental que o cliente apresenta, para que durante o processo o sujeito possa desenvolver um maior grau de consciência e autonomia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

GUILHARDI: Hélio José. Com o que o terapeuta trabalha em sua atuação clinica? Campinas - SP: Instituto de Análise de Comportamento e Instituto de terapia por Contingências de Reforçamento.

MACHADO, Ana Maria Lé Sénechal. Invalidando e contextualizando a queixa inicial: um modo de intervenção em psicoterapia breve¹ Sobre comportamento e cognição: Vol. 7. Expondo a variabilidade. Santo André: Esetec. 2001. P.146-151

MAHFOUD, M. Plantão psicológico: novos horizontes. São Paulo: Companhia Ilimitada.1999.

MEYER, S. B. Sobre comportamento e Cognição: A prática da análise do comportamento e da terapia cognitivo-comportamental. O conceito de análise funcional Santo André : ESETec. 2006, Vol2, Cap 5 p.29-34

PAPARELLI, R.; MARTINS, M. Psicólogos em formação: vivências e demandas em plantão psicológico. Revista Psicologia Ciência e profissão. V.27, n. 1, 2007, p.64-79.

TASSINARI, M. Tornando-se urgentemente acolhido: para quem e para quê?. In: A clínica de urgência psicológica: contribuições da abordagem centrada na pessoa e da teoria do caos. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2003.

Postado por Ítalo Sobrinho

4 comentários:

  1. Excelente texto!
    Considerando as demandas emergenciais em que a AC pode ser útil, vê-se no Plantão Psicológico uma proposta a mais para a resolução de comportamentos punidos ou reforçados inadequadamente.

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  2. Gostei do texto e pediria que informasse o sobrenome do autor, bem como sua instituição. Grata!

    Fátima Garcia.

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  3. Olá Fátima, fico feliz que tenha gostado do texto. O nome do autor é: "Carlos Eduardo Pereira Júnior".
    Caso queira entrar em contato, meu e-mail é: psi.eduardo@hotmail.com

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  4. Muito bom o texto, é muito legal ver que os frutos do plantão psicológico repercute sobre os diversos olhares da psicologia. Abraço meu caro.

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